MUITO MAIS DO QUE AZUL: POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADO NO CINEMA CONTEMPORÂNEO

Há muito se conhece a importância das cores na vida do ser humano e como elas estão presentes em todos os aspectos de sua existência. Este estudo propõe-se a discutir como as cores traduzem as emoções no cinema contemporâneo. O cinema foi uma grande revolução de caráter técnico e a possibilidade de se agregar cor às narrativas contadas nas telas trouxe uma nova forma de impactar o espectador. Estados de ânimo, situações físicas e o íntimo dos personagens poderiam ser agora retratados a partir das cores. A verdadeira invenção da cor cinematográfica data do dia em que os realizadores compreenderam que ela não necessitava de ser realista (isto é, conforme com a realidade) e que devia ser utilizada, principalmente, em função dos valores (como o preto e branco) e das implicações psicológicas das diversas tonalidades (cores quentes e cores frias) (Martin 2005: 86). Segundo Guimarães (2003: 21) “a cor é, certamente, um dos mediadores sígnicos de recepção mais instantâneos na comunicação [...]”, pois com a ajuda das cores é possível que os mais diversos tipos de informações sejam passados. Eva Heller ( 2004) propõe que para que a concepção de sentido de uma cor aconteça, não necessariamente ela se apresentará sozinha. As produções utilizam-se de acordes cromáticos para que um efeito seja atingido e se torne tangível para o espectador. Segundo Heller: “um acorde cromático se compõe daquelas cores que mais frequentemente associam-se a um efeito particular. [...] Um acorde cromático não é nenhuma combinação acidental de cores e, sim, um todo inconfundível” (Heller 2004: 18). No caso do filme Moonlight ( 2016) temos a presença constante da cor azul, que com a abordagem dos acordes cromáticos de Heller ( 2004) permite contar as três diferentes fases da história de Chiron com combinações visuais diferenciadas que auxiliam na construção simbólica da narrativa, destacando as emoções vividas pelo protagonista: a) Criança: Chiron conhece seu “salvador” Juan, amigo e protetor e narcotraficante. Chiron vive com a mãe que é usuária de drogas e abusa emocionalmente do filho. Aqui temos a presença do acorde cromático “Confiança” e “Força”, segundo Heller ( 2004). b) Adolescente: na escola o menino sofre bullying perante os colegas: Chiron é homossexual e encontra em Kevin apoio, compreensão e prazer. Aqui temos o uso de acorde cromático, segundo Heller ( 2004) , “Passividade” e “Introversão”. c) Adulto: Chiron é adulto e livre. Ele é conhecido como “Black” e comanda o narcotráfico de Atlanta. Ele recebe ligações de sua mãe e de Kevin. Parece isolado, afastado. O acorde cromático que representa as cenas é “Distanciamento”, segundo Heller (2004). Conforme pudemos analisar, nenhuma cor aparece em cena, no cinema, sem ter sido colocada com um determinado intuito e com um significado a ser transmitido. Suas combinações, especialmente, permitem a criação de uma “sinfonia” de cores que manifestam visualmente a expressão mais íntima de seus personagens. Referências: GUIMARÃES, Luciano. A Cor Como Informação. 3ª ed. São Paulo: Editora Annablume, 2004. HELLER, Eva. A Psicologia das Cores: como as cores afetam a razão e a emoção. São Paulo: Editorial Gustavo Gili, 2004. MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. 4ª ed. Lisboa: Editora Dinalivro, 2005.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas de los lenguajes visuales, sonoros y audiovisuales
Semiótica de las mediatizaciones
Institución: 
UCS- Universidade de Caxias do Sul
Mail: 
iasilva@ucs.br

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