Ódio e medo nos discursos políticos no Brasil

Nesta apresentação trataremos dos discursos passionais do ódio e do medo como estratégias dos discursos políticos, no quadro das pesquisas que vimos desenvolvendo no Brasil sobre os discursos intolerantes e preconceituosos. Examinaremos, assim, o papel dos estudos semióticos na produção de conhecimento sobre os discursos como mais um caminho para, pelo saber, contribuir para a inclusão social. Essas pesquisas estão assentadas, do ponto de vista teórico e metodológico, na semiótica de perspectiva francesa. Os semioticistas, sobretudo na América Latina, têm contribuído para o conhecimento da cultura e da sociedade de seus países e para a construção de discursos de aceitação e intervenção social, mas há ainda muito a ser feito. Vamos observar sobretudo os discursos políticos na internet (em particular nas redes sociais), das duas últimas décadas, no Brasil. Com isso, poderão ser apontadas as estratégias usadas e a persuasão buscada em diferentes momentos da vida política no país. É preciso, porém, reforçar que as novas tecnologias não são as responsáveis pela intolerância social, mas exacerbam e explicitam o preconceito, o ódio e a exclusão na sociedade atual. Duas questões serão enfatizadas nesta exposição: o exame semiótico das paixões do ódio e do medo, que caracterizam os discursos intolerantes e que são decisivas na política de hoje; a construção de discursos políticos “intolerantes em relação ao que não pode ser tolerado”, para justificar o caráter preconceituoso e discriminatório desses discursos. Os discursos intolerantes são fortemente passionais e neles predominam dois tipos de paixões: as paixões ditas malevolentes (antipatia, ódio, raiva, xenofobia, etc.) ou de querer fazer mal ao sujeito que não cumpriu determinados acordos sociais, e as paixões do medo do “diferente” e dos danos que ele pode causar. O sujeito do ódio em relação ao diferente é também o sujeito do amor à pátria, à sua língua, ao seu grupo étnico, aos de sua cor, à sua religião, ou seja, complementam-se as paixões malevolentes do ódio em relação ao “diferente” e as paixões benevolentes do amor aos “iguais”. Em relação às paixões do medo, é o medo do outro, de suas ações e das privações por ele ocasionadas e que ocorre, sobretudo, nas situações de desigualdade social que, geralmente, caracteriza o discurso intolerante. As paixões do medo muitas vezes provocam as paixões do ódio ou juntam-se a essas paixões malevolentes e fazem crescer de intensidade as ações intolerantes. Embora o medo e o ódio sejam, em geral, moralizados negativamente pela sociedade, e a coragem e o amor, fortemente valorizados, o medo do outro e do ódio do diferente são, nos discursos políticos intolerantes, usados, muitas vezes, como estratégia ou plataforma política, levando, com isso, ao crescimento das ações intolerantes. Mesmo assim, os discursos intolerantes são empregados como procedimentos para obtenção de votos, vitória em eleições e criação ou propagação de valores na sociedade, com a justificativa de que que são discursos “intolerantes em relação ao que não pode ser tolerado”. Trataremos, semioticamente, dessas questões em nossa exposição.
Land: 
Brasilien
Thema und Achsen: 
Semiotik und Erzählungen
Semiotik der doxologischen Diskurse (politisch, religiös, journalistisch)
Institution: 
Universidade de São Paulo e Universidade Presbiteriana Mackenzie
Mail: 
dianaluz@usp.br

Estado del abstract

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