A estrutura dos mitos: uma reflexão semiótica sobre o modelo de Lévi-Strauss

Em “A estrutura dos mitos”, Lévi-Strauss (1985, 237) analisa e propõe um modelo para explicar a constituição de um mito, abrangendo suas variações sincrônicas e diacrônicas. A Semiótica Greimasiana, tendo como uma das bases de sua fundação o modelo levistraussiano, lança sobre ele um olhar ambíguo: ao passo em que o reconhece de suma importância para a descoberta dos níveis mais profundos da narrativa, retira do discurso mítico qualquer especificidade em relação a outros discursos (Greimas e Courtés 2008, 312). Tal olhar sobre o discurso mítico e os textos com ele produzidos leva, inevitavelmente, à pergunta sobre o que define esse tipo discursivo, isto é, existiria algum elemento que tornaria alguns discursos e textos tão diferentes e importantes dos demais, a ponto de serem considerados até mesmo sagrados? Essa questão é a primeira que buscaremos refletir. O mesmo Lévi-Strauss (idem) mostra que os mitos valem-se de repetições de certos elementos que vão reafirmando seu sentido, como espécies de feixes temáticos, e garantindo, segundo ele, sua perpetuação através do tempo. Esses elementos, a nosso ver, poderiam ser compreendidos a partir da definição semiótica de isotopia (Greimas e Courtés 2008, 275-278), não sem desconsiderar que isso poderia desafiar o modelo levistraussiano, uma vez que as isotopias são estruturas, de acordo com a Semiótica Greimasiana, potencialmente presentes em quaisquer textos e discursos. Esta é nosso segundo questionamento: como a Semiótica pode, com o auxílio de sua definição de isotopia, compreender o modelo que Lévi-Strauss propõe para a análise dos mitos, modelo este, no nosso entendimento, preterido ao longo do tempo pela mesma Teoria Semiótica que nele teve sua origem. Para nos auxiliar nessa reflexão, utilizaremos os desenvolvimentos teóricos obtidos em “Sistemática das isotopias”, texto em que François Rastier (1976) procura não somente sistematizar a ocorrência de isotopias nas narrativas, mas também demonstrar que elas ocorrem em relações que vão das mais visíveis e figurativas, às mais complexas e metalinguísticas. Por fim, e a partir desses questionamentos, buscaremos prever as consequências que possam decorrer de suas respostas, em relação aos processos de interpretação dos textos e discursos pelo leitor e, concomitantemente, dos artifícios de manipulação do leitor pelo texto.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas de los discursos doxológicos (político, religioso, periodístico)
Institución: 
Universidade de São Paulo
Mail: 
guilhermedemarchi@yahoo.com.br

Estado del abstract

Estado del abstract: 
Accepted
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