O GOSTO DO OUTRO: RELAÇÕES ENTRE GASTRONOMIA E IMIGRAÇÃO EM SÃO PAULO
Dotada de uma considerável variedade de culinárias vindas de diversas partes do Brasil e do mundo, a cidade de São Paulo apresenta opções para todos os paladares e gostos. Em termos de organização espacial e plástica, a diversidade permanece: há desde restaurantes simples e locais, cujo reconhecimento e fama podem advir da qualidade de sua comida, até estabelecimentos enquadrados na categoria de alta gastronomia, em sintonia com seus equivalentes internacionais em termos de qualidade e requinte do ambiente (além da qualidade da comida). Diante desse cenário, já bastante complexo, viu-se na capital paulistana a repetição de um fenômeno associado à presença de grupos imigrantes: o surgimento de restaurantes ligados à culinária de país de origem. No entanto, esse evento no contexto gastronômico paulistano, a despeito de sua repetição do ponto de vista diacrônico, comporta também um componente de novidade diretamente relacionado à origem desses imigrantes. Assim, acompanhando os movimentos imigratórios contemporâneos, foram inaugurados restaurantes de culinária peruana, colombiana, chinesa, coreana e, de modo geral, africana na capital paulistana. Outra particularidade desses estabelecimentos está ligada à questão da espacialidade urbana, pois parte deles está localizado no centro velho e degradado de São Paulo, cujos alugueis, mais baratos, propiciaram as condições iniciais de aparecimento desses lugares comerciais. O propósito deste trabalho é o de refletir sobre a formação das novas significações produzidas pelas interações realizadas no espaço de restaurantes imigrantes. Foram selecionados quatro estabelecimentos a partir dos quais foram observados os modos de servir os pratos, a interação dos funcionários com os frequentadores, a relação entre eles, a estética do prato e os sentidos que eles produzem naqueles que a experimentam. Para atingir o objetivo proposto, é utilizada a semiótica discursiva de linha francesa em sua vertente social: a sociossemiótica desenvolvidas por Landowski. Desse modo, defende-se a hipótese de que o restaurante imigrante está se tornando um espaço consideravelmente frequentado por brasileiros por articular a dimensão sensível da cultura do outro por meio dos sentidos mobilizados pela degustação dos pratos, pela organização plástica e figurativa dos estabelecimentos comerciais e pelos modos de atendimento, o que implica compreender a interação dos funcionários imigrantes e os demais consumidores (brasileiros e imigrantes). Assim, os regimes de interação e sentido propostos por Eric Landowski permitem depreender a dimensão sensível, os modos como os corpos interagem no e com o espaço e, em seu limite, o funcionamento da troca cultural no espaço dos restaurantes, sobretudo por meio do conceito de ajustamento. Por fim, refletir-se-á sobre as repercussões desses estabelecimentos e dos movimentos que eles provocaram na espacialidade urbana para se compreender a relação dos cidadãos paulistanos com o centro velho de São Paulo, cuja revitalização, ainda em seu início, parece ter a contribuição dos restaurantes imigrantes por atraírem um público desacostumado a visitar esse lugar da metrópole, em um movimento que valoriza a diversidade e a diferença trazidas pelos grupos imigrantes.
Observação: trabalho faz parte do subtema: estesia e gosto, organizado pela Profa. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira.
País:
Brasil
Temas y ejes de trabajo:
Las articulaciones y confrontaciones entre perspectivas semióticas e investigaciones en comunicación
Semióticas indiciales (materialidades, cuerpos, objetos)
Institución:
Universidade de Franca (UNIFRAN)
Mail:
alexandrembueno@gmail.com
Estado del abstract
Estado del abstract:
Accepted