Os modos de contato na Música Cênica Contemporânea

A Música Cênica é uma prática que coloca em contato elementos musicais e cênicos conduzidos por uma enunciação musical de base. Na guia das diversas vertentes da música contemporânea e experimental, alguns autores ressaltam a presença cênica das performances musicais utilizando estratégias de iluminação, figurino, gestualidade, elementos verbais, encenação etc. A partir da peça Son et Lumière (1968), do compositor brasileiro Gilberto Mendes, apontaremos como diferentes sentidos são criados a depender do modo de contato que se estabelece entre a linguagem musical e a cênica. A obra é composta para uma modelo feminina, dois fotógrafos masculinos, SOM de piano projetado em caixas de som e LUZ de flashes fotográficos. A peça alterna entre dois quadros bastante distintos, um "SEM SOM" e outro "COM SOM". O primeiro quadro é predominantemente cênico, no qual a modelo, que também é a instrumentista, é perseguida pelos fotógrafos (paparazzis) em volta do piano. No segundo quadro, os intérpretes param suas ações e um acorde de piano, dissonante e com dinâmica forte, é projetado pelas caixas de som, acorde que está em contraponto com disparos de flashes fotográficos projetados em direção à plateia. Com base na abordagem tensiva da semiótica francesa, proposta por Claude Zilberberg, a análise apresentará as estratégias discursivas e expressivas que constroem a relação entre as presenças musicais [C₁] e as presenças cênicas [C₂] através da configuração gradativa dos seus modos de contato. Baseando-se nos estudos de Hjelmslev (1978), Zilberberg (2001) prevê um contato gradual entre elementos, que vai do mais íntimo ao menos íntimo [fusão – mescla – contiguidade – separação]. A partir desses estados aspectuais, identificaremos o ponto de partida e as transformações de contato que acontecem ao longo da música. As linguagens musicais e cênicas que constituem a obra serão apresentadas a partir de uma sintaxe de interação, em que é possível observar a “dominância” entre as presenças, ou classes C₁ e C₂, o “transporte” dos elementos de uma classe para outra e também a eventual “ambivalência” dos elementos entre as classes. A seleção dos elementos leva em conta a sua integração no corpo das práticas musicais e cênicas, de modo a não se limitar pelo tipo de canal sensorial envolvido, o que quebra a predisposição implicativa de que se é sonoro então é musical, ou se é visual-performático então é cênico. Desse modo podemos verificar como se constroem para o sujeito inserido nessa prática híbrida as ligações entre as linguagens que interagem na realização performática da música cênica.
Temas y ejes de trabajo: 
Las semióticas de la escena y de la puesta en escena
Semióticas de los lenguajes visuales, sonoros y audiovisuales
Institución: 
Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo - ECA/USP
Mail: 
boningustavo@gmail.com

Estado del abstract

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Accepted
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