POR UMA SEMIÓTICA DAS PRÁTICAS EXPOGRÁFICAS

O espaço expositivo é um campo em potencial onde as relações juntivas e presença das instâncias enunciantes, programadas ou não, se estabelecem como uma interface textual convocadora de práticas e cenas que a transbordam ou lhes são aparentemente alheias. Em museus e em outros espaços especializados ou não na exibição de determinados objetos, os agrupamentos podem variar discursivamente, seja pela dominância de traços mais profundos ou superficiais, seja pela presença de conjuntos específicos ou heteróclitos de objetos, de usos mais estéticos ou práticos, seja pela tendência de um discurso implicativo ou concessivo, devendo as estratégias expográficas operarem um maior ou menor ajustamento das oposições. No que se refere a um desenho dos conjuntos expositivos, que nos interessa particularmente, conjugam-se desde paradigmas museográficos mais difundidos nos quais os objetos são acomodados ou se moldam ao espaço expositivo, até arranjos em que determinadas intervenções interferem ou recriam os espaços. Tendo como base um corpus de análise constituído por conjuntos de objetos de diferentes naturezas, bem como por obras de arte, o objetivo desta comunicação é discutir a respeito das diversas possibilidades de relações estruturadas que caracterizam o que postulamos serem diferentes modos expositivos e esboçar uma tipologia de práticas expográficas. Tais práticas serão consideradas como dispositivos semióticos vinculados a um nível de experiência do percurso da expressão (Fontanille, 2005; 2017), assim como do âmbito das modulações tensivas, especificamente no que se refere às triagens e misturas da dimensão da extensidade, a fim de se verificar a concentração e a difusão sensível desses conjuntos em relação ao enunciatário visitante. À experiência de tendência mais subjetiva e de fechamento, características do universo plástico das obras de arte em geral, atravessadas, sobretudo por um regime de crença textual e por um tempo imanente, opõe-se a experiência de tendência mais objetiva e de imersão no espaço ordinário dos objetos que nos cercam, regidos por crenças de natureza prática e funcional, e por uma tempo retórico (Bordron, 2017). Propomos analisar como dispositivos topológicos e temporais chegam ao seu limite quando a lógica dos estados de coisas e a lógica dos estados de alma, são rearranjadas pela emergência de um espaço e de um tempo da ordem do incomensurável e do acontecimento.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Semióticas indiciales (materialidades, cuerpos, objetos)
Institución: 
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Mail: 
cerdera@uol.com.br

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Accepted
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