Este artigo apresenta como a arquitetura e o design de interiores da antiga residência soteropolitana dos escritores brasileiros Jorge Amado e Zélia Gattai, hoje memorial aberto ao público, recria, promove e difunde imagens associadas ao caráter simbólico do estilo de vida baiano. Como hipótese, o estudo entende que isso se daria por meio da decoração dos ambientes da residência, localizada no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, espaço atualmente dedicado à preservação da cultura baiana, e de suas relações simbólicas com a memória local, apresentando as imagens errantes globais que também abastecem esse imaginário. O imóvel, com quase dois mil metros quadrados divididos em diversos ambientes e jardins, foi comprado em 1960 com dinheiro da venda dos direitos do livro “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado. O número 33 da Rua Alagoinhas, que posteriormente transformou-se no título do livro de Zélia Gattai, “A Casa do Rio Vermelho”, abrigou o casal e muitos visitantes ilustres por 40 anos. Durante esse período, eles criteriosamente escolheram e colecionaram muitos objetos, provenientes de uma centena de países por eles visitados, que seguem ali expostos. O estudo utiliza-se da metodologia criada pelo estudioso alemão Aby Warburg em seu Atlas Mnemosyne, que resgata imagens da cultura precedentes e o contexto simbólico no qual são inseridas. Para analisar as camadas de imagens presentes nesses fluxos caracterizados pelo ir e vir de souvenirs, que contribuem para estabelecer as relações significantes no “espaço geográfico”, entendido conforme o geógrafo brasileiro Milton Santos, estudam-se não só o design dos objetos, mas as raízes étnicas, atividades de entretenimento e ideais de bem viver que cercam a habitação. Para SANTOS (1996, p. 51), “o espaço reúne a materialidade e a vida que a anima”. Difere, portanto, da mera configuração territorial, ou configuração geográfica, uma vez que a existência social é dada pelas relações humanas que nele se estabelecem, aportando significações aos objetos e seu entorno. Dessa feita, o artigo busca apresentar a elaboração de complexos vínculos afetivos, compostos particularmente pelas camadas de imagens exibidas nas coleções de objetos que adornam a Casa do Rio Vermelho.