Trajectórias do leitor no espaço textual
O elemento instigador desta comunicação é a afirmação premonitória de Barthes anunciando que “o nascimento do leitor deve pagar-se com a morte do Autor”. A instância tutelar do texto, o autor, estava então sujeita a uma trajectória de migração para a instância da recepção, o leitor.
O âmbito da textualidade opera rupturas com a imediaticidade do modelo comunicacional, desde logo pela incoincidência entre emissor e receptor no mesmo espaço-tempo. As tecnologias do registo atribuem um diferimento às instâncias enunciativas. Neste diferimento é o texto que integra os trajectos do leitor, que lhe fornece os lugares de intervenção e as suas trajectórias, operando modos de ler.
O leitor é a expressão figural do regime actancial destinador/destinatário. Paralelamente ao autor, cuja performance está a montante do objecto texto, ele opera no espaço da recepção, aqui mediatizada pelo texto e, nessa medida, conferindo uma dimensão de interpretação e de re-significação textual afastada da imediaticidade da instância discursiva.
O lugar actancial de destinatário pode tomar diversas configurações segundo o nível de generatividade em que aparece, assumindo as figuras de narratário ou de enunciatário. De que forma se localizam esses lugares no texto e quais as trajectórias entre estas instâncias é a problemática que esta comunicação pretende formular.
Dito de outro modo: o texto abre os espaços onde narratário e enunciatário se inscrevem. Poderemos afirmar que o narratário, respondendo ao catalisador que é o narrador, abrange, tal como este, toda uma panóplia de funções actoriais de presentificação no espaço textual (narrativo): de observador, de testemunha, de leitor, de ouvinte, etc. Esta implicitação que corresponde a um movimento de desembraiagem do texto, deixa as suas próprias marcas por onde se detectam as possíveis ancoragens do enunciatário. Todo o nó textual exige e convoca o enunciatário como instância de re-investimento significante do texto. Mas essa instância é eminentemente textual, tal como a define Eco ao colocá-la na dependência da intentio operis. O leitor modelo está inscrito no texto e não situado fora dele. É esse questionamento que cabe convocar num momento em que o regime da textualidade se abre à tão falada interactividade, com as tecnologias digitais.
Por seu lado, há que considerar uma outra trajectória da leitura que se realiza em todo o texto entendido no seu eixo vertical. Face ao seu intertexto, qualquer texto pode ser encarado como uma trajectória de leitura, desencadeando relações de intertextualidade com os textos que lhe são anteriores e para os quais ele funciona como re-escrita ou leitura activa. Neste caso, é o próprio texto que emerge como leitor, oferecendo ao seu destinatário virtual a possibilidade de desenhar trajectórias entre o intertexto e o texto de chegada.
País:
Portugal
Temas y ejes de trabajo:
Las articulaciones y confrontaciones entre perspectivas semióticas e investigaciones en comunicación
Institución:
Universidade Nova de Lisboa - UNL
Mail:
mab@fcsh.unl.pt
Estado del abstract
Estado del abstract:
Accepted