Um traje coberto de remendos de seu próprio tecido: princípios para a discussão da arbitrariedade do signo

O signo linguístico saussuriano possui como primeiro princípio caracterizador a arbitrariedade. No Curso de linguística geral (doravante CLG), obra que marca o legado do linguista Ferdinand de Saussure, vemos que a união entre os elementos constitutivos do signo (significado e significante) é arbitrária, ou seja, a totalidade do signo é arbitrária. No entanto, dizer que o elo entre significado e significante é arbitrário significa aceitar a possibilidade de que qualquer falante possa estabelecer, na sua língua, as relações de forma e sentido que desejar, o que inviabilizaria a comunicação, uma vez que impossibilitaria duas pessoas de partilharem os mesmos signos em um dado idioma. Avançando nestes estudos, Saussure apresenta uma solução para compensar tal princípio, formulando assim as ramificações da noção de arbitrariedade, que são o arbitrário absoluto e o arbitrário relativo. A fim de ilustrar a arbitrariedade absoluta, o linguista apresenta o exemplo do número vinte, signo radicalmente arbitrário quando comparado aos demais signos que com ele podem se relacionar, como por exemplo, o número dezoito, vinte e um e etc. Para a arbitrariedade relativa, Saussure fala do número dezenove, signo parcialmente motivado quando posto em relação aos signos dez e nove. Robert Godel, em Les sources manuscrites du cours de linguistique générale de F. de Saussure (1957/1969), obra que inaugura os estudos acerca do legado saussuriano e serve de inspiração para trabalhos posteriores relacionados ao mestre genebrino, a partir de uma das notas de Dégallier, apresenta que a arbitrariedade possui determinados graus e que somente uma parte dos signos é considerada, de fato, arbitrária. Todavia, a arbitrariedade relativa só é assim classificada em consequência da arbitrariedade absoluta, uma vez que os signos podem ser relativamente arbitrários quando postos em relação a determinado grupo de signos, pois caso este grupo mude, esta motivação poderá ceder lugar à imotivação. Como exemplo, temos o signo girassol que apresenta certa motivação; no entanto, quando se observa seus elementos constituintes (gira e sol), nos colocamos frente ao radical arbitrário, uma vez que s-o-l e a “ideia de sol” resultam de um encontro categoricamente radical de massas amorfas de som e sentido (o mesmo vale para a forma gira). Assim, pensando na arbitrariedade do signo, este trabalho pretende iniciar uma discussão sobre como as formações neológicas, formas que transformam e conservam uma língua, conseguem realizar tal ação, partindo do princípio de que a língua é um “traje coberto de remendos feitos de seu próprio tecido” (SAUSSURE, 1970/2012, p. 230), ou seja, a motivação dos signos talvez encontre-se na própria língua.
País: 
Brasil
Temas y ejes de trabajo: 
Los pasajes entre semiología y semiótica
Fundación y fundamentos lógicos de la semiótica
Institución: 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mail: 
joanaqribeiro@gmail.com

Estado del abstract

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