Misoginia e homofobia no Brasil: imbricamentos semióticos
O trabalho que ora apresentamos propõe um duplo desafio: discutir, de um lado, o projeto de uma semiótica das culturas no âmbito da semiótica de linha francesa, e, de outro lado, apresentar uma reflexão sobre as representações de corpos e sexualidades consideradas minoritárias ou marginais, destacando aquelas que estão na base da misoginia e da homofobia que circulam na mídia brasileira. Quanto ao primeiro aspecto, buscaremos realizar um exercício de descrição e análise daquilo que A. J. Greimas e J. Courtès já chamavam de “conjunto de axiologias, das ideologias e das práticas sociais significantes” (Dicionário de semiótica, 2008, p. 109) e que dariam, portanto, forma à cultura, seguindo de perto as propostas de Jacques Fontanille, que não apenas crê em uma abordagem que dê conta da cultura como insiste que “a semiótica pode [...] atualmente, caracterizar os conjuntos significantes coerentes e congruentes que são as práticas sociais [...] e as formas de vida” (“A semiótica hoje: avanços e perspectivas”, Revista Estudos Semióticos, 2016, p. 7). As formas de vida carregam os valores e os princípios norteadores que organizam todos os outros planos de imanência e se manifestam por atitudes e expressões simbólicas, influenciando sentimentos, posições de enunciação e escolhas axiológicas, representando, numa dada sociedade, diferentes formas identitárias. Em outras palavras, a forma de vida é uma experiência semiótica que dá lugar a um sentimento de identidade e de comportamento, graças à regularidade de um conjunto de procedimentos discursivos. Graças ao conceito de forma de vida que a semiótica pode se aproximar das propostas de Judith Butler e Paul Preciado, por exemplo, experimentando o diálogo necessário para que possamos discutir as questões relativas às identidades, em especial às relacionadas a sexo, gênero e sexualidade, em um percurso teórico e metodológico que permite partir da análise de sistemas de valores (axiologias/ideologias), de formas de vida específicas, abrindo a teoria semiótica para os estudos de gênero. Quanto à seleção do córpus, buscaremos estabelecer, a partir de textos da mídia impressa os procedimentos discursivos que criam, gerenciam e (des)controem as identidades e formas de vida. Se elegemos os textos midiáticos como o lugar da aparição e da consolidação de formas de vida é porque acreditamos que a grande mídia é responsável por difundir determinadas representações identitárias que se cristalizam na cultura e que podem ser negadas, afirmadas, exaltadas ou apagadas. No que concerne às noções de misoginia e homofobia, partimos do pressuposto de que ambas articulam procedimentos discursivos e semióticos marcados pelo feminino. Assim, seguiremos dois caminhos para pensar representações dos corpos e práticas sociais: (1) representações da travesti e da mulher transexual no Brasil e a construção dos corpos objeto e abjeto; (2) o corpo da mulher e do homossexual na cultura e na política. A partir do que aqui propomos, esperamos contribuir para uma reflexão sobre as dimensões sociais e culturais que revestem ou sustentam a produção do sentido e, mais especialmente, descrever as formas de vida que se organizam no centro e na periferia do que podemos chamar de cultura brasileira.
País:
Brazil
Tema e machados:
A analise do discurso como pratica interpretativa
Semióticas dos discursos doxológicos (politico, religioso, jornalístico)
Instituição:
UNESP
Mail:
matheus.schwartzmann@gmail.com
Estado del abstract
Estado del abstract:
Accepted