Procedimentos retóricos e semióticos na canção “Retrato em branco e preto”, de Chico Buarque e Tom Jobim

O diálogo entre música e retórica, que teve um grande desenvolvimento no período Barroco, principalmente com o surgimento da monodia, excedeu os limites da música erudita do século XVII e pode ainda ser observado em diversos processos criativos da canção popular. No contexto do Brasil, este gênero musical consolidou-se como uma das principais formas de expressão do ethos nacional, um lugar de encontros e fusões. Chico Buarque e Tom Jobim estão dentre os compositores da canção brasileira que se utilizaram de variados recursos retóricos e semióticos, como uma forma de mover os afetos dos interlocutores. Estes compositores procuram articular as palavras e os sons musicais de uma maneira que encante os ouvintes e se gere um efeito de verdade no que está sendo enunciado. Baseado nesses procedimentos semióticos e retóricos utilizados pelos autores de música popular, o objetivo desse trabalho é realizar uma análise da canção “Retrato em branco e preto”, de Chico Buarque e Tom Jobim. Desejamos compreender quais estratégias discursivas, musicais e literárias foram utilizadas pelos compositores para revelar um sujeito lírico em desilusão amorosa e, desse modo, mover as paixões dos interlocutores de música popular. Por meio da análise da articulação intersemiótica texto poético/ música nota-se que essa canção possui uma rigorosa unidade estilística, uma relação isotópica. Em outros termos, as imagens poéticas e os sentidos criados pela letra possuem uma exata correspondência com os procedimentos de composição musical, tais como melodia, arranjo, ritmo e harmonia. Desse modo, percebeu-se, a partir da articulação entre semiótica e retórica, que a canção “Retrato em branco e preto” é composta por vários procedimentos retóricos, como uso de figuras como a catabasis e o gradatio. Observou-se que há em sua composição uma dominância dos elementos emergentes da fala, isto é, um processo de figurativização. Verifica-se o enunciador deseja “mandar um recado” para um enunciatário e falar sobre o seu sofrimento. Essa forma de organização faz com que o ouvinte se concentre na letra, ocultando, de certa maneira, os elementos estritamente musicais. Podemos dizer, portanto, que os compositores Chico Buarque e Tom Jobim empregaram estratégias retóricas para colocar em destaque a fala do sujeito do enunciado. Como aporte teórico, elegemos os trabalhos de semiótica da canção desenvolvidos por Luiz Tatit, além de conceitos da Retórica e da Teoria dos afetos.
País: 
Brazil
Tema e machados: 
As semióticas das artes: momentos e territórios
Semiótica das linguagens visuais, sonoras e audiovisuais
Instituição: 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG)
Mail: 
alfredo.lima@ifpi.edu.br

Mais expositores

ROBSON BESSA COSTA

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Estado del abstract: 
Accepted
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