No Brasil dos anos 1950, a mídia predominante era o rádio (NAPOLITANO, 2005; GONZALEZ, 2000), mídia que movimentou imensamente o cenário musical e vastamente estudada. Na mesma década, a televisão é inaugurada no país, e vai se fortalecendo lentamente ao longo daqueles anos, emprestado e muitas atrações do rádio e da indústria fonográfica em sua programação. O ponto de encontro dessas duas mídias no campo da produção musical é o que nos interessa aqui: esta proposta enxerga a cantora Maysa como um ícone artístico da mudança tecnológica do limiar entre mídias e estéticas. Cantava sambas-canções, boleros e canções francesas, como toda a carga performática e interpretativa daqueles gêneros, ao mesmo tempo em que flertava com a Bossa Nova e seu espírito de modernidade. Maysa teve um programa na Tv Record, situada na cidade de São Paulo, estreado em 1957, onde apresentava canções de repertório variado: desde músicas autorais – ao estilo sambolero - e Bossas as mais recentes, recebendo músicos convidados, expondo, dessa maneira, um trânsito entre gêneros musicais, estéticas e performances. Para alguns autores, no entanto, suas interpretações de Bossa Nova não soavam harmônicas à proposta daquela estética, tendo em vista detalhes de sua persona vocal ainda que seu prestígio servisse como chancela para a novidade musical (MELLO 2017; NETO, 2007). A despeito de embaraços estéticos, o programa Convite para Ouvir Maysa serviu como experimento para uma mídia que nascia no Brasil – a televisão – possibilitando testar audiências, recepção de gêneros musicais, técnicas de câmera e áudio, dentre outros aspectos que lidam com a memória, cultura das mídias e canção – para as mídias (VALENTE, 2003). Propõe-se, então, analisar parte do repertório apresentado no programa televisivo de Maysa com ênfase em detalhes performáticos da cantora para compreender de que maneira a performance musical midiatizada ocorre em momentos de transição de mídias e de estéticas, tal como ocorria na época.