Populismo 2.0: as formas da polarização na comunicação política contemporânea
(O abstract integra a mesa “A comunicação política contemporânea entre populismo, fake news e pós-verdade”)
Em Da cosa si riconosce il populismo. Ipotesi semiopolitiche (Sedda & Demuru, 2018), identificamos cinco traços distintivos do discurso populista contemporâneo, a saber: vagueza, implosão, estesia, corporeidade, negatividade. Desdobrando e aprofundando o raciocínio ali desenvolvido, propomos aqui abordar um outro atributo central da recente ascensão, em escala internacional, dos novos populismos político-mediáticos: a polarização.
Ora, apesar da polarização ser objeto de debate em diversos âmbitos disciplinares, poucos são os estudos que refletem de maneira consistente e detalhada sobre as estratégias semiopolíticas que regem as narrativas da polarização. Muitos limitam-se a dizer o que ela é, ou a determinar sua composição quantitativa, elencando os atores que se situam em cada um dos polos. Trata-se de um passo importante, o qual, todavia, não é suficiente para a total compreensão do fenômeno. Para tanto, outras perguntas precisam ser colocadas: como a polarização se manifesta? Através de quais pilares e diretrizes se dá a relação entre os polos? O que, nela, está em jogo? Quais são seus componentes semânticos, narrativos, discursivos? Quais os valores, os temas, as figuras e os papeis actanciais e temáticos que a definem enquanto tal? Quais os regimes de interação e sentido no qual se inscreve e que contribui a engendrar?
O nosso objetivo é procurar preencher esta lacuna, abordando as diversas formas que a polarização assume, hoje, no discurso populista. Os textos que compõem o corpus da análise são extraídos, em maioria, da semiosfera italiana e brasileira, países nos quais líderes e partidos populistas de extrema direita (Matteo Salvini e a Lega Nord, na Itália; Jair Bolsonaro no Brasil) ganharam os mais recentes pleitos eleitorais. No entanto, outros exemplos pontuais, oriundos de outras semiosferas nacionais, serão levados em consideração para dar corpo à reflexão.
Com base nos preceitos da semiótica greimasiana e pós-greimasiana e da semiótica da cultura de Jurij M. Lotman, bem como nas diretrizes da abordagem semipolítica por nós recentemente desenvolvida (Sedda & Demuru, 2018), a hipótese que pretendemos explorar é que o discurso da polarização que caracteriza o populismo contemporâneo funda-se em três estratégias discursivas de construção do outro:
a) estratégias narrativas, baseadas em duas modalidades de configuração do antissujeito, que correspondem à oposição, de matriz hjelmsleviana entre termos intensivos e extensivos. No primeiro caso, o outro é encarnado por um actante individual ou coletivo “particular”, isto é, marcado: Lula, o PT, a União Europeia, o Euro, os migrantes, etc.; no segundo caso, o outro é identificado com um actante coletivo “geral”, ou seja, não marcado: A “casta”, na Itália, a política e as políticas como um tudo, os estrangeiros, e assim por diante;
b) estratégias figurativas, centradas em diversos processos de figurativização do outro: bruxas, loucas, monstros, mafiosos, feios, sujos e maus, etc.;
c) estratégias temáticas, que põem o acento na construção de polarizações temáticas e de valores: novo vs velho, honestos vs corruptos, falsos vs verdadeiros, etc.
Country:
Brazil
Theme And Axes:
Semiotics of doxological discourses (political, religious, journalistic)
Institution:
Universidade Paulista
Mail:
paolodemuru@gmail.com
Estado del abstract
Estado del abstract:
Accepted